Errâncias e errantes: um estudo sobre a mobilidade do sujeito e o uso de bebidas alcoólicas na contemporaneidade.
- Carlos Andreassa
- 19 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: há 14 horas

Autoria:
Eurípedes Costa Nascimento
Faculdade de Ciências e Letras. Universidade Estadual Paulista. UNESP- Campus de Assis
Resumo:
O consumo de álcool tem sido uma das maiores preocupações da saúde pública no mundo e suas causas parecem estar associadas a diversos fatores, dentre eles, a cultura. Articulados com a errância e impulsionados por motivos sócio-econômicos ou mesmo por razões pessoais, traz consigo profundas modificações no plano psicossocial. Considerando a especificidade dessa população, seu modo peculiar de vida na condição da errância, essa pesquisa teve por objetivos investigar as razões que levam esses sujeitos à ruptura com a vida sedentária e o papel que a bebida alcoólica exerce nesse processo de desfiliação. Foram tomados como sujeitos, 16 trecheiros do sexo masculino que fazem uso, assumidamente, de bebidas alcoólicas. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas gravadas com roteiro estruturado no Centro de Triagem e Encaminhamento Migrante da cidade de Assis, S.P., abordando os motivos para a errância, o uso do álcool ao longo da vida, as relações familiares e perspectivas futuras no modo de vida itinerante. As entrevistas foram submetidas, posteriormente, a uma análise de conteúdo. Os resultados demonstraram que o momento da ruptura com a vida sedentária e a iniciação no trecho, é marcado por algum incidente no núcleo familiar do sujeito, tais como: o desemprego, a violência familiar, a busca de liberdade, além dos desentendimentos conjugais presentes como um dos fatores cruciais para a desfiliação. O uso do álcool, associado à pobreza, inicia-se na infância, estimulado pelos próprios pais ou amigos e atua como um dos principais elementos presentes nos conflitos domésticos e na desfiliação do sujeito para a errância. No trecho ele é atribuído pelos próprios sujeitos à necessidade de criar coragem, esquecer problemas do passado e apaziguar conflitos remanescentes, em geral, conflitos afetivos que possuem, como epicentro, a infidelidade conjugal. Os resultados permitem concluir que parece haver uma estreita vinculação entre a errância e a cultura do narcisismo, pois, ambas apresentam a individualidade como marca registrada do sujeito no mundo. No caso da cultura do narcisismo, trata-se de uma individualidade positiva porque o sujeito se apresenta como um ser absolutamente vitorioso no espaço social onde os apetrechos e as insígnias dão status e garantias sociais. No caso da errância, trata-se de uma individualidade negativa porque o sujeito se apresenta como um ser completamente despossuído de bens que lhes assegurem, no mínimo, o pertencimento a uma coletividade social.
Palavras chaves: Alcoolismo, Isolamento Social, Psicologia Social, Migração, Individualismo.
NASCIMENTO, Eurípedes Costa do. Errâncias e errantes: um estudo sobre a mobilidade do sujeito e o uso de bebidas alcoólicas na contemporaneidade. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2004.
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