
ANDARILHOS
DE ESTRADA
ERRÂNCIAS
Andarilhos de estrada e trecheiros podem ser tomados como um espelho sutil, porém, radical dos modos de vida que se acentuam na atualidade. Vivem, dia após dia, num caminhar sem fim, pelos acostamentos das rodovias ou se deslocando de uma cidade à outra. Não possuem lugar algum onde possam permanecer, se fixar, criar alguma raiz ou estabelecer vinculações e relacionamentos sociais e afetivos duráveis. “Vivem no trecho”, como eles mesmo dizem, a saber, percorrendo a esmo parcelas de um caminho, sem eira, nem beira, sem rotas definidas ou um destino final. Um caminho que é feito ao caminhar, como já disse um poeta. Sobre eles incidem, com toda virulência e radicalidade, a lógica do mundo atual, a lógica da errância, marcada pela efemeridade, provisoriedade e celeridade, pela incitação a deslocamentos e movimentações incessantes no plano geográfico, social, afetivo, emocional, intelectual, profissional, laboral, dentre outros. Em algum grau e respondendo de formas diferentes e singulares, somos todos afetados pelas incitações a mobilidades, nomadismos e errâncias, que grassam a vida na atualidade, mesmo que seja percorrendo e habitando as redes sociais pela tela de um celular.

O objetivo desta página é divulgar o modo de vida dos andarilhos de estrada e dos trecheiros e dar visibilidade social a eles, por meio de pesquisas científicas e demais produções referenciadas. Trata-se de uma população completamente ignorada pelo Estado, pela sociedade e também pela ciência, porém que tem muito a contribuir quanto à diversificação dos modos se ser e de existir da humanidade. Nesta página, podem ser acessados vídeos de entrevistas realizadas com andarilhos nos acostamentos das rodovias, artigos publicados em revistas científicas, referências de livros e demais conteúdos que permitem adentrar o cotidiano dos andarilhos e trecheiros e fazer reflexões e comparações entre tantos modos de vida na atualidade regidos pelas forças econômicas, culturais, sociais, políticas e psicológicas que impelem as pessoas a viverem em contante trânsito, cada vez mais acelerado.
FÓRUM
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Andarilhos
de estrada
São pessoas que vivem caminhando pelos acostamentos das rodovias, carregando às costas sacos ou mochilas surradas, puxando carrinhos de mão ou, ainda, pedalando velhas e precárias bicicletas. Carregam consigo todos seus parcos pertences. Não gostam do ambiente urbano que consideram refratários a eles e perigoso. Adentram as cidades apenas em caso de extrema necessidade. Pernoitam em recantos dos postos de serviços ou de outros estabelecimentos existentes nas rodovias, em abrigos de paradas de ónibus, debaixo de pontes e viadutos ou improvisando um abrigo com pedaços de plástico e alguma coberta, “no meio do mato”, como dizem. Conseguem a alimentação com doações de restaurantes, caminhoneiros e viajantes ou fazem a própria comida com utensílios de cozinha e mantimentos que carregam, utilizando fogareiros ou improvisando o fogo em algum local do acostamento mais recuado da pista. A maioria entra-se na faixa etária entre 30 e 50 anos. Alguns possuem mais de 60 anos. O tempo de vida com andarilho pode atingir até 40 anos ou mais, como alguns afirmam. Os motivos para “caírem na estrada”, também é variável: pobreza, desemprego, alcoolismo, desentendimento e separação conjugal, falecimento dos pais, lutos intensos e crises depressivas ou simplesmente o desejo de viajar, conhecer o mundo e ser livre são os mais citados. Parte deles declara que sairia da estrada se tivesse alguma oportunidade e outra parte declara que gosta de viver na estrada e jamais abandonaria essa forma de viver.

Trecheiros
São pessoas que, pelos motivos declarados pelos andarilhos, abandonaram a vida anterior sedentarizada e passaram a viver como errantes, em constante trânsito de uma cidade a outra, permanecendo nelas pouco tempo – alguns dias ou semanas. Nessas breves estadias convivem com as pessoas em situação de rua da localidade. Sobrevivem da ajuda dos serviços municipais de assistência social e de instituições filantrópicas, de alguns bicos que possam arranjar ou recorrem a achaques e mangueios, tal como nomeiam a prática de pedidos de auxílio financeiro, utilizando argumentos que consideram convincentes. Se deslocam com passes de viagem de ônibus concedidos pelos serviços de assistência social ou caminhando a pé pelos acostamentos das rodovias.

GALERIA


FONTE DE PESQUISA
A maior parte das pesquisas divulgadas aqui foi produzida por um grupo, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Campus de Assis), formado por docentes, doutorandos, mestrandos e bolsistas, em iniciação científica, da graduação, dedicados à realização e divulgação de pesquisas com andarilhos de estrada e trecheiros. As primeiras pesquisas se iniciaram em 1991 e até hoje o grupo acumula uma larga experiência de pesquisa e uma significativa produção científica sobre andarilhos de estrada e trecheiros, consubstanciada em teses de livre docência, teses de doutorado, dissertações de mestrado, livros, artigos publicados em revistas científicas, comunicações em congressos e vídeos de entrevistas realizadas em acostamentos de rodovias.